As Faces da Justiça Própria

Uma das coisas mais importantes para um cristão é viver debaixo do favor de Deus. Jesus fez o sacrifício que fez para que nós pudéssemos ter acesso a esse favor do Pai. O grande problema é que muitos de nós não desfrutamos desse favor; e, por que será que isso acontece? Será que o problema está em Deus? É claro que não. O apóstolo Paulo nos mostra que o grande vilão é a justiça própria. Em Gálatas 5:4-5 está escrito: “4 De Cristo vos desligastes, vós que procurais justificar-vos na lei; da graça decaístes. 5 Porque nós, pelo Espírito, aguardamos a esperança da justiça que provém da fé.”

A graça de Cristo nada mais é que o favor de Deus sobre nós. Todavia, Paulo diz que podemos decair dessa graça. Isso não significa que perdemos a nossa salvação, como alguns equivocadamente pensam. Decair da graça significa sair de debaixo do favor de Deus. Nós decaímos da graça quando vivemos segundo a lei. A lei é o favor merecido – se nos comportamos bem, somos abençoados, mas se nos comportamos mal, recebemos juízo. Assim era a lei no Velho Testamento, mas a graça é o favor imerecido. Cristo já cumpriu a lei em nosso lugar e agora recebemos a bênção por causa da Sua obediência. Se vivemos ainda na lei, estamos na justiça própria e por isso deixamos de desfrutar do favor. O favor deve ser sempre o favor imerecido.

Se o favor é porque merecemos, já não é mais graça ou favor de Deus: “E, se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é graça.” Romanos 11:6 Graça é favor imerecido, enquanto as obras traduzem algum tipo de merecimento. Portanto, graça e obras são conceitos opostos. O problema é que não queremos depender do favor, por isso tentamos fazer alguma obra para merecer a bênção de Deus.

O que faz com que a graça seja interrompida? Muitos rapidamente dirão que é o pecado, mas na verdade é a justiça própria. Paulo diz que a fé é anulada quando vivemos no padrão da lei, ou seja, procurando merecer a bênção de Deus. A justiça própria faz com que a graça não tenha efeito. Vejamos alguns exemplos:

1) Pedro e João (1João 4:10)

Precisamos ter os olhos abertos para perceber que o ponto central é o amor de Deus por nós, e não o nosso amor por Ele. Nosso amor por Ele será apenas uma resposta do amor que recebemos. Quanto entendemos que somos amados, então nós o amamos. O apóstolo João era o discípulo a quem Jesus amava. Ele se identifica dessa forma no seu evangelho. Ele se gloriava em ser amado pelo Senhor.

Pedro, por outro lado, se gloriava em amar o Senhor e de ser capaz de dar a própria vida pelo Senhor Jesus. A lei diz: “Amará o Senhor teu Deus!”, mas a graça diz: “Nós amamos por que Ele nos amou primeiro!” Quando confiamos em nosso próprio amor pelo Senhor, estamos confiando na carne. Em João 13:37-38 está escrito: “37 Pedro perguntou: “Senhor, por que não posso seguir-te agora? Darei a minha vida por ti! 38 Então Jesus respondeu: “Você dará a vida por mim? Asseguro-lhe que, antes que o galo cante, você me negará três vezes!”

Pedro representa aqueles que se apoiam em seu próprio amor pelo Senhor. Ele rapidamente disse: “Por ti darei a própria vida”. Pedro e João são dois estilos de vida. Dois tipos de ministério. No fim, João estava ao pé da cruz, mas Pedro negou Jesus. Com qual deles gostaríamos de nos identificar? Não confiamos em nosso próprio amor pelo Senhor, mas descansamos no seu amor por nós. O nosso próprio amor é lei, mas o amor d’Ele é graça.

2) O exemplo do fariseu (Lucas 18:9-14)

A Palavra de Deus condena o pecado, mas precisamos admitir que o pecado não foi impedimento para que pessoas recebessem os milagres de Jesus. Você acha que as pessoas que receberam os milagres do Senhor Jesus eram fiéis e obedientes à lei? Claro que não. Você acha que elas tinham problemas conjugais, problemas com ressentimento, desejo de vingança, cobiça e lutas com tentações sexuais? Certamente elas tinham algum desses problemas. Mas isso não as impediu de receber nenhum milagre. O Senhor não exortou nenhuma delas a mudar de vida antes de receber. Também o Senhor nunca se recusou a fazer uma cura com argumento de que a pessoa merecia aquela doença. Ele nunca disse que a doença era melhor para a pessoa do que a cura. Os pecadores sempre receberam do Senhor.

Por outro lado, não temos o relato de nenhum fariseu recebendo coisa alguma do Senhor. Por que isso aconteceu? Simplesmente por causa da justiça própria. Os fariseus se achavam merecedores da bênção de Deus, pois, afinal, eles eram cumpridores da lei. Mas nós sabemos que nenhum homem jamais cumpriu a lei. As prostitutas, os coletores de impostos e todos os pecadores receberam o Senhor com alegria. Todos eles, quando tocaram no Senhor, receberam o milagre. Quando receberam do Senhor, eles não eram perfeitos, mas a imperfeição deles não foi impedimento para o milagre.

Paulo diz que aquilo que nos separa de Cristo e nos faz decair da graça é a justiça própria. Sempre que procuramos ser aceitos por Deus pela nossa performance, pela nossa obediência aos mandamentos, nós decaímos da graça. 

3) O irmão do filho pródigo (Lucas 15:25-30)

Quando confiamos em nossa justiça própria, nós nos separamos da graça de Deus. Somente pode desfrutar da graça aquele que reconhece que não tem merecimento algum. E aquele que reconhece que não possui merecimento nenhum também não cobra justiça e perfeição dos outros. Uma vez que foi tão generosamente perdoado, ele está pronto a perdoar os outros também.

O irmão do filho pródigo é um exemplo claro. O filho pródigo fez o que fez, gastou o dinheiro do pai dele com festas, prostitutas. Literalmente, ele era alguém que não mereceria receber nada do pai dele. Só que no final ele recebeu muito mais do que esperava; e, sabe por que? Porque ele confiou na bondade do pai e não no seu próprio merecimento.

Agora o mais interessante de tudo foi o irmão dele. Que não aprontou como o filho pródigo e mesmo assim nunca experimentou do favor do pai porque ele confiava na justiça própria. Porque ele confiava nas obras dele. Na cabeça dele ele tinha que fazer algo para merecer o churrasco com o novilho. Só que ele nunca conseguiu chegar nesse padrão de justiça. Por isso ele nunca teve a coragem de chegar no pai e pedir.

A conclusão que nós chegamos é a seguinte: merecendo ou não, ouse pedir, ouse confiar no favor imerecido do Senhor. Deixe a sua justiça própria de lado. O máximo que a justiça própria pode fazer é gerar ressentimento no nosso coração assim como aconteceu com aquele irmão. O pai todo feliz com a volta do filho e ele chateado porque o irmão estava sendo abençoado.

Dia após dia o nosso grande desafio é viver pela fé e não pelas obras. É viver confiando no favor imerecido do Pai. Por isso, não julgue ser merecedor ou não. Nós nunca seremos dignos ou merecedores de nada de Deus. Mas mesmo assim nós podemos ser abençoados. Não confie em você mesmo, confie nEle.